Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A construção comunicacional da realidade 33 discutir. Porque a comunicação, que, digamos assim, teria um papel secundário nos seus primórdios, e depois ela passou a ser importante a partir da tipografia, e de algumas transformações humanas que transformaram a sensibilidade em várias épocas diferenciadas, hoje ela se torna, ou, mais importante, digamos assim, o equipamento que nos combina, que nos organiza nes- sa vida social e, de certa forma, nos aprisiona. Por quê? Nós sabemos que os grandes meios de comunicação foram por muito tempo bancados, conduzidos, controlados pelo grande capital. E o grande capital fazia não apenas jornais, revistas, mas também investia na área cultural, no glamour, na forma como foram se desenvolvendo os meios de comunicação. Não só agora, os meios impressos, jornais, revistas, mas o rádio, que aparece também nessa época, em 1918, e os demais aparelhos vão surgindo a partir dos anos 1920, especialmente a televisão e o cinema, que ocuparam também um espaço muito importante no imaginário social. Isso não é sem resultados, sem efeitos, sem impactos para a sociedade. Ao contrário, isto fez com que essas sociedades adquirissem uma nova dimensão neste momento, aquela dimensão que era, por assim dizer, passi- va, na comunicação, passa a ser totalmente ativa. Característica básica desta época é que o homem possa deslocar-se do centro das atenções para uma periferia, graças aos aparelhos de repro- dução que tomam seu lugar, que ocupam o seu lugar. Mais ainda: essas sociedades são marcadas pela ideia da imortalidade. Dentro dos meios de registro, as pessoas vão gravar suas vozes, seus movimentos, e se tornará, portanto, imortal. E poderão reapare- cer como figuras proeminentes da vida social. Além disso, isso é também uma nova realidade, que é uma realidade mundial, mar- cada pela existência, pela produção de um novo plano, de um novo nível de sociabilidade, que é o plano abstrato, imaginário, e de produção de ideias, que será o novo plano de sociabilidades. O que nós temos, agora, é o processo em que o grande capital (que banca tudo isso, que foi responsável pelo aparecimento das grandes máquinas, as máquinas de reprodução da Se- gunda Revolução Industrial, esses grandes aparelhos) mobiliza esses meios e os utiliza de forma ampliada, exatamente pela interferência das novas tecnologias e dos equipamentos técnicos que os homens vão utilizar. Então nós temos aí que a grande em-

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