Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

A construção comunicacional da realidade 37 Ciro: Muito obrigado, Braga. Como sempre, uma per- gunta bastante complexa que não facilita muito o respondedor. Bom, são essas duas perguntas acopladas à questão atual. E que experimentações serão possíveis para o homem no sécu- lo XXI. Bom, eu não sei exatamente o que está entendendo por experimentação. Braga: Eu complemento, Ciro, lembrando, quando falo experimentações sociais, que alguns textos que tenho lido, inclu- sive de sua produção, que eu aprecio particularmente, são aqueles em que você trata de experimentações feitas com os seus es- tudantes. É o que me inspirou a fazer essa pergunta. Ciro: Entendi. Sim. Estudantes, para mim, são os meus ratos de laboratório. Isso é uma forma pouco justa para com eles, mas eu tive bons resultados. Por que isso? Quando eu publiquei a nova teoria, tive dificuldade de colocar pessoas que praticassem, colocassem em prática essa teoria. Isto há 11 anos atrás. Aí me surgiu a ideia: bom, talvez os meus estudantes, que são estudantes mais ou menos maduros, poderiam arcar com essa possibilidade social da teoria. E propus a eles que fizessem essa experimentação, como você está falando, em termos de ‘vamos ver como isso se dá na prática’. E isso, em princípio, deixou os estudantes assustados, mas, depois, no final, eles constataram que foi uma experiência extraordinária e saíram muito satisfei- tos porque não tratava de uma pesquisa clássica, ao contrário, de uma pesquisa em que todos nós aprendemos algo. Isso para mim foi a grande vitória nesse procedimento. Porque foi uma pesquisa reveladora de muitas coisas. Coisas que não constavam nos livros e que não eram conhecidas até então. E que eu pode- ria dizer que estávamos constituindo saberes. Por isso que eu escolhi esses alunos na universidade. Segundo ponto, “qual é o papel de universidade nisso?”. Bom, essa pergunta já se encavala na outra. Porque a pergunta é exatamente qual é o papel da universidade hoje. Eu acho que a universidade só existe por este motivo. Para interferir no so- cial, no cultural, no político, ideológico, etc. Aí interfere o saber universitário, e aí eu acho que é o único papel efetivo, real, da universidade. Era isso. Não sei se o Braga está satisfeito. Braga: Com certeza. Sim, com certeza.

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