Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Ciro Marcondes 38 Ciro: Para o Braga, eu faria aqui o jogo do pingue-pon- gue, devolvendo para ele a pergunta: o que a própria teoria que ele está desenvolvendo interfere ou não no saber e no conhecimento prático? Quer dizer, até que ponto existe uma interface produtiva entre o que ele escreve, como um excelente teórico, e a comuni- dade em geral, a sociedade, em que medida a sociedade absorve, incorpora, usa isso o que ele produz? Essa seria minha pergunta. Braga: Ok. Vamos tentar, Ciro. Vamos tentar. Na ver- dade, eu não tenho uma teoria geral da comunicação. Eu acredito que a comunicação se desenvolve e ainda se desenvolverá por um longo tempo através de teorias intermediárias. Mesmo as teorias consideradas teorias gerais da comunicação são intermediárias no sentido de que não conseguem abranger toda a complexidade do fenômeno comunicacional. São teorias in- termediárias. Pois bem, a minha perspectiva é que é necessário apreender o que está acontecendo na experimentação social, concentrando, por exemplo, na questão das redes digitais. Nós percebemos que a sociedade está experimentando intensamente. Uma boa parte dessas experimentações não são favoráveis à civilização. Por exemplo, experimenta-se hoje fortemente no Brasil e no mundo, são feitas experimentações com fake news, com discursos de ódio. São experimentações com as affordances tecnológicas. Ao mesmo tempo, temos experiências excelentes em produtividade e criatividade. É necessário compreender as lógicas internas de tais experiências. As boas e as más experiên- cias, porque é necessário fazer uma crítica específica e interna de cada processo experimental, e acredito que esse seja o único modo para tentar reforçar as boas experiências e para desmon- tar as experiências que são contrárias à civilização. Eu acredito que nós passamos hoje um período, essa instabilidade do período atual, que corresponde a um grande pe- rigo para a civilização. E eu acho que a situação política mundial com o avanço da extrema-direita é fortemente relacionada ao nosso desconhecimento dos riscos da midiatização. E, portanto, o importante é agora desenvolver sistemas críticos não simples- mente contra as experiências negativas, mas contra as próprias lógicas que sustentam essas experiências. E para isso é necessá- rio que a universidade compreenda detalhada e especificamente cada experiência social que é feita no quadro da midiatização.

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