Sapiens... qui nesciat. A aprendizagem social e o Homo sapiens midiatizado 47 que sapiens, somos qui nesciunt – os que não sabem. Isso é a uma qualidade importante – pois aprender viabiliza uma adaptati- vidade (em lógica darwiniana) ampliada para a grande diversidade de situações em que a espécie pode enfrentar desafios de sobrevivência. Estamos habituados a aprender o que já foi estabelecido, elaborado, transformado em cultura, e isso é relevante para gerar continuidade e alguma estabilidade social. Não temos que reinventar tudo, a cada geração, a cada momento. Mas é importante não perder de vista outro aspecto, talvez principal: o ges- to de aprender, como processo de invenção para o qual a razão, importante como seja, não é suficiente. Somos sapiens não diretamente pelo que sabemos, mas sim pelo que aprendemos por descoberta e pela competência inferencial de aprendizagem. 3. Aprendizagens O enfoque deste artigo envolve aprendizagens voltadas para a descoberta de conhecimentos e soluções, por processos sociais, nas condições contextuais dos problemas surgentes. É preciso detalhar as três dimensões envolvidas nesse enfoque. O gesto humano original do aprender é o da invenção por experimentações, por seleções igualmente tentativas, por insight e debates, mesmo na insuficiência de informação. Em qualquer situação a invenção é estruturante da aprendizagem. A criança que aprende a falar não apenas repete sons relacionados com o sentido estabelecido. Antes faz uma descoberta relacional que já é uma abdução. A descoberta relacional faz parte de um processo experimental inventivo, que é o de testar a expressão sonora até ajustar o seu uso às diversas circunstâncias em que pode ser usada, commaior ou commenor precisão – e que segue o programa da própria criança (VYGOTSKY, 1994). Encontramos aí a dimensão entre as aprendizagens de processos prontos e estabilizados e a aprendizagem-invenção ou aprendizagem criativa, em que o enfrentamento de problemas e a busca de soluções fazem gerar conhecimentos novos, que se aprendem no processo mesmo de sua geração.
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