Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Sapiens... qui nesciat. A aprendizagem social e o Homo sapiens midiatizado 51 ras na cultura de seus contextos e, mais ainda, da própria espécie humana. Deste tipo são as invenções que alcançam os modos de interagir dos participantes sociais – incidindo diretamente no exercício comunicacional de suas atividades. Constata-se, aí, uma diferença importante com rela- ção às descobertas antes referidas, geradoras, na sequência, de aprendizagem de conhecimentos prontos. Encontramos, em vez disso, um período mais ou menos extenso de instabilidades – em que a sociedade tem que aprender a lidar com esses pro- cessos e a desenvolver estratégias para a superação de indefinições, o enfrentamento de descaminhos e de acionamentos mal intencionados. Basta lembrar algumas das invenções que se mostraram relevantes no processo da civilização: as pinturas rupestres; o desenvolvimento da fala e da linguagem oral4; a escrita ideo- gráfica, no oriente; a escrita alfabética; a retórica; a escultura; a pintura; a midiatização caracterizada por fotografia, cinema, rá- dio, televisão, redes digitais. A cada passo em tais macroproces- sos de comunicação corresponde um período de instabilidade de padrões interacionais nas sociedades humanas. Nos diversos âmbitos de organização dos grupos, co- munidades ou sociedades humanas, com suas culturas, o surgimento de tais desenvolvimentos comunicacionais provocou processos relativamente longos de instabilidade interacional e de experimentações. Embora tenham sido inicialmente feitos para o enfrentamento de problemas mais ou menos direciona- dos, não se propagaram em modo de “conhecimento pronto”. Por sua incidência nos processos do ambiente cultural em que a invenção social surgiu, observa-se uma repercussão em casca- ta sobre múltiplos processos sociais, culturais e políticos, como novos problemas e desafios, errâncias e reajustes que exigem reiterado “preenchimento estratégico” (FOUCAULT, 1994). Na construção social de tais dispositivos, 4 Os pesquisadores da linguagem situam esse desenvolvimento em diferentes al- ternativas: desde o início do sapiens – 128 milhões de anos – de que a linguagem oral seria uma das características básicas; ou apenas no sapiens caracterizado como “moderno”, há cerca de 50 mil anos.

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