Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

José Luiz Braga 52 cada efeito, positivo e negativo, desejado ou indesejado, entra em ressonância ou em contradição com os outros, e pede uma retomada, um reajuste, dos elementos heterogêneos que surgem aqui ou ali. De outra parte, processo de perpétuo preen- chimento estratégico (FOUCAULT, 1994, p. 299). Dada a novidade e a complexidade da própria inven- ção, os grupos interacionais não têm um domínio pleno de suas lógicas e possibilidades – ainda em processo de agenciamento tentativo para as situações específicas em que são acionadas. Ou seja: processos em constituição, não poderiam ter suas próprias estruturas prontas e estabilizadas. Estas são desenvolvidas em exercício experimental. Isso implica que as “funcionalidades” de partida das invenções interacionais não expressam exatamente seu alcance potencial – solicitando sucessivamente novas invenções sociais (novas aprendizagens de enfrentamento) como possibilidades agenciadas no contexto dos problemas que vão surgindo na esteira das próprias experimentações. Essa hipótese (sustentada por interpretações de espe- cialistas a respeito do surgimento da língua oral, pela história do desenvolvimento das escritas e por nosso conhecimento direto da midiatização, que vai se tornando o processo interacional de referência) permite fazer a inferência de que desenvolvimentos intensivos de potencialidades interacionais geram uma insta- bilidade social mais ampla – exigindo uma fase mais ou menos longa de reajuste de processos sociais. Isso aciona um período de experimentações e de preenchimento estratégico, em que conhecimentos prontos se tornam inseguros ou mesmo contes- tados como base de aprendizagem. Os conhecimentos disponíveis sofrem um recuo ao mesmo tempo que não há ainda co- nhecimentos estáveis para substituí-los. A sociedade é levada, por necessidade mesmo de recuperação, a uma intensificação de aprendizagens de invenção.

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