Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação e midiatização capitalizadora nas sociedades hipermidiatizadas 155 e, portanto, compreende um conjunto de símbolos [...]” (ibid.). Isso é importante para compreendermos como o processo de extração de mais-valor se intensifica e se altera. O que importa ressaltar é que é por meio da construção e operação semiótica/ econômica da marca que se pode dar o retorno da extração do mais-valor oriundo da divisão do trabalho, “sob a forma de ren- dimento de monopólio” (ibid.). Para Fontenelle, Embora o valor trabalho seja do domínio do tem- po fixo da produção da mercadoria – o capital fixo material tão evidenciado nos processos de terceirização da produção – ele se subordina ao capi- tal imaterial, espaço-tempo do capital global das marcas, domínio do capital simbólico, no qual os valores se tornam relacionais e “mudam com sen- timentos, humores, confiança, expectativas e ante- cipações do mercado”. Essa lógica passa a definir uma temporalidade diferente na qual o tempo fu- turo – da valorização das marcas – define que, na produção, o que passa a contar é a intensidade do trabalho e não mais a medida do tempo do traba- lho em horas (ibid., p. 21). 3. Pulsões e cultura do consumo Do ponto de vista do consumidor, é preciso que a criação do mais-valor também apareça na circulação como um valor comunicacional. A criação de mais-valor continua a depender da exploração do trabalho, como diz Fontenelle, mas “esse eixo só se sustenta, como um nó borromeano, em conexão com os níveis da circulação e da distribuição do valor, através do consumo e das finanças” (ibid.). Nesse sentido, é fundamental o papel da midiatização, ligada intimamente à cultura de consumo do capi- talismo comunicacional. Durante o século passado o desenvol- vimento do capitalismo exigiu a crescente liberação das pulsões (PRADO, 2019)3, tendo havido para isso um processo de forma- ção do consumidor, em torno de uma cultura do consumo cada vez mais complexa, de forma que “o resultado é a interiorização 3 Ver também FONTENELLE, 2017 e DUFOUR, 2013.

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