Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Circulação de rostos: da fórmula mágica à resistência 187 ética da alteridade. Esta ética10, em nossa ótica, coloca em xeque nossos aprendizados de lógicas de mídia e nos demanda lógicas de midiatização, portanto, ir além da repetição de modelos valorados, mas contra-agenciar os fluxos a partir do conhecimento que circu I l s a t . o é mais do que repetir fórmulas, como a exibição de rostos infantis para o choque; a ética que aqui se esboça enfatiza o lugar criativo, de produção de sentidos e de condições de visibili- dade e reconhecimento, inclusive questionando as normas já estabelecidas. Assim como Lévinas (1980) sugere, a ética é da ordem do sensível e reside no contato com o outro, no que é externo, mas que solicita o acolhimento e a solidariedade. Neste aspecto, consideramos que as lógicas de midiatização vão muito além daquelas percebidas em McCurry e nas imagens de ativistas e socorristas na Síria; elas estão constituindo práticas sociais diferenciadas que rompem com os espaços autorizados de voz. Neste sentido, entender a circulação como um processo de atribuição de valor nas interações (e de condições de reconhecimento) nos possibilita pensar em táticas para criar condições de visibilidade, mesmo quando estas são negadas a priori. Ou seja, ao mobilizar circuitos que valorizem o rosto, talvez possamos romper tanto com as fórmulas mágicas quanto com as faces e sujeitos esquecidos. Emerge daí a necessidade de um aprendizado social de como lidar com a produção/circulação da violência, suas causas e modos de ser, não apenas com a exposição desta. O jornalismo parece redundar na abordagem que evidencia os casos, o acon- tecimento; já o contra-agenciamento feito por coletivos ativistas nos mostra a possibilidade de evitar a violência com a educação, a mobilização e o respeito ao outro. A violência vista de modo cí- clico em novos casos tem seu precedente, pois já é uma violência 10 Durante o seminário, outro ponto que José Luiz Aidar Prado trouxe como con- tribuição para a pesquisa em curso é pensar a ética da alteridade de Lévinas e a relação política que não ganha tanta ênfase em sua obra. Terry Eagleton, em seu estudo sobre a ética, considera que Lévinas, Badiou e Derridá, entre outros, não problematizaram a dimensão da política de modo suficiente. Além disso, o autor questiona a ideia de culpa que emerge da responsabilidade universal e infinita. A crítica a Lévinas, certamente, precisa ser aprofundada. Contudo, a perspectiva deste artigo considera a dimensão política tanto um modo de viver em socieda- de, um processo inerente ao produzir imagens, quanto a atribuição de valor nas interações. Ou seja, a circulação permite que política e ética sejam pensadas não como oposição, mas como um modo de agir.

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