Sapiens midiatizado: conhecimentos comunicacionais na constituição da espécie

Sapiens... qui nesciat. A aprendizagem social e o Homo sapiens midiatizado 55 6. A crítica Ao lado das experimentações diretas de estratégias comunicacionais para o enfrentamento dos desafios surgen- tes na esteira de “processos novos”, um componente relevante do processo de aprendizagem social é o trabalho crítico que se desenvolve (espontânea ou planejadamente) sobre a própria experimentação. O aprender individual implica a constatação pelo aprendiz do resultado de suas tentativas. A criança aprendendo a falar testa e verifica o resultado de sua aprendizagem por aplicações tentativas, recebendo, pelo resultado, o retorno sobre o sucesso da aventura. Socialmente, o próprio gesto crítico de examinar pro- cessos com curiosidade é parte constitutiva do aprender. Nos processos canônicos de interação, já entrados nos costumes, a crítica é um procedimento de longo curso na cons- trução social da realidade, fazendo auscultação de sentidos, atri- buição de percepções finas e sutis sobre sua circulação, e complementação de saberes e conhecimentos. Nas situações de revisão e experimentação, essa cons- trução pela crítica mostra um processo mais diretamente ativo – eventualmente mais polêmico – sobre as experiências em an- damento. Já não se trata apenas de indicar sentidos e atribuir va- lor. É preciso sobretudo testar e selecionar melhores respostas, perceber lógicas ainda em construção para assinalar potenciali- dades, identificar limites, mostrar riscos e redirecionar visadas. Nesse âmbito, a crítica participa do processo criativo, torna-se elemento central da própria aprendizagem por inven- ção. A crítica é o âmbito geral do que, no campo científico, é cha- mado de epistemologia evolutiva. Na ciência, isso corresponde à ação de aperfeiçoamento sucessivo na geração de conhecimento pela verificação de proposições, pelo desenvolvimento de novas questões e pelo debate. No âmbito social geral, de aprendizagem por invenção e processos críticos, esta pode ser a arena em que as ideias, as táticas, as tentativas em tempo real das atividades sociais se testam pela própria geração interpretativa, que se inventa como reação direta, diante das propostas que surjam sem atestado de validade e se exerçam a risco.

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